Médico branco e de olho verde se declara negro para prestar concurso com cotas
A
poucos dias da prova de seleção de novos diplomatas, o concurso do
Itamaraty foi alvo de uma polêmica levantada pela organização não
governamental Educafro. Em carta aberta ao Ministério das Relações
Exteriores, a entidade reclama da falta de critérios para confirmação de
que candidatos a cotas na seleção são realmente negros. No centro da
discussão, um nome já conhecido: Mathias Abramovic, médico carioca,
branco de olhos verdes, que se inscreve mais uma vez como cotista.
Em
2013, Abramovic chegou a passar na primeira e na segunda fases do
concurso, com uma média que só o levou adiante porque estava nas vagas
reservadas para candidatos negros, mas foi reprovado depois. Na época, o
Itamaraty explicou que esperaria a conclusão do concurso para tomar uma
decisão, caso necessário. Neste ano, o médico de 38 anos - que já
declarou se considerar afrodescendente porque tem uma bisavó paterna
negra e avós maternos pardos - foi novamente aceito no concurso como
cotista.
A primeira prova ocorre no dia 2 de agosto. O jornal "Estado de S.Paulo" tentou contato com o candidato, sem sucesso.
A
Educafro acusa o Instituto Rio Branco, órgão de formação dos
diplomatas, de não criar mecanismos de averiguação da identidade racial
dos candidatos. "Por que o Instituto Rio Branco, que já foi alvo de
fraude em concursos anteriores, não criou mecanismos para coibir que
essas mesmas fraudes se repitam no primeiro concurso depois da
implementação da lei de cotas?", pergunta na carta Frei David Santos,
diretor da ONG, afirmando ainda que o IRB "se apega ao texto da lei" de
cotas, que praticamente reproduziu no edital, e questiona se ao fazer
isso não estaria dificultando propositalmente a entrada de negros no
serviço diplomático.
Autodeclaratória
O
Itamaraty explica que não existe na lei de 2014 nenhuma permissão para
que o órgão faça algum tipo de verificação visual nos candidatos que se
declarem negros. Ao contrário, a lei é clara quando diz que a
identificação racial é autodeclaratória. Questionado sobre o que
acontecerá com um candidato como Abramovic, claramente branco, caso seja
aprovado, a explicação é que será preciso verificar quais são os
procedimentos.
O
Itamaraty ressalta que, antes mesmo das leis das cotas, já fazia ações
afirmativas. O primeiro programa criado, existente até hoje, é o de uma
bolsa preparatória para o concurso concedida a candidatos negros. Os
dados mostram que 6% dos estudantes beneficiados foram aprovados nos
concursos desde o início do programa. No público em geral, o índice é de
1% dos candidatos. As informações são do jornal "O Estado de S. Paulo".
FONTE:instituto rio branco.
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