06.07.2015
[ América do Sul ]
Pescadoras brasileiras viajam à Bolívia para entregar apelo ao Papa Francisco

Adital
Integrantes
do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) e da Articulação
Nacional das Pescadoras (ANP) do Brasil embarcaram para a Bolívia com o
objetivo de participar do Encontro do Papa com os Movimentos Populares, que
acontece entre os próximos dias 07 e 09 de julho, em Santa Cruz de la Sierra.
As pescadoras levam uma carta pedindo que o Papa Francisco faça um apelo ao
governo brasileiro para que não tire direitos das pescadoras no Brasil, com o
decreto 8425. Para assinar a petição online contra o decreto 8425, clique aqui.![]() |
Pescadoras em luta contra o decreto que retira direitos, principalmente das mulheres, embarcam para a Bolívia. |
Com o decreto, só é considerado pescador artesanal quem faz a captura do pescado, excluindo a produção familiar tradicional, que inclui a maioria das mulheres das comunidades. Em nota divulgada, o MPP afirma que "com isso, se impede o trabalho, o direito à identidade das pescadoras artesanais que fazem o beneficiamento e a confecção dos apetrechos da pesca, retiram seus direitos e criam precedentes para a negação de direitos trabalhistas e previdenciários conquistados”.
Além disso, o decreto diz que só entra no conceito de pescador artesanal aquele que depende exclusivamente da pescaria. "Este ponto desconsidera pescadores/as artesanais que exercem outras atividades tradicionais, como a agricultura e o artesanato, e que essas fazem parte de um modo de ser específico e que fortalecem a atividade da pesca”, esclarece a nota. Aumentando as restrições, o decreto 8425 também impede o acesso ao RGP para aqueles que pescam para subsistência (consumo familiar, troca, escambo etc), desconsiderando que essa é também característica das comunidades tradicionais pesqueiras.
Para os movimentos, se, por um lado, o decreto restringe mais o acesso ao RGP para as comunidades pesqueiras, principalmente para as mulheres, do outro, flexibiliza para empresários do mundo da pesca. Ele passa a considerar como pescador artesanal também aqueles com embarcações de arqueação bruta de até 20 AB (grandes embarcações), ou seja, muitos do empresariado. O MPP denuncia isso como um artifício para que os empresários da pesca deixem de pagar salários e encargos. "Esses empresários, que mantém atividades empresariais não registradas são, na maioria das vezes, os que mais praticam formas de trabalho precários e similares ao trabalho escravo”, denuncia o movimento.
Em carta aberta à sociedade, o MPP deixa claro o total descontentamento e repúdio em relação ao decreto 8425/2015. "Este decreto não condiz com a diversidade, peculiaridades e realidade da pesca artesanal no Brasil. Ele tenta homogeneizar os pescadores numa lógica urbana, interfere no direito de autodeterminação dos povos e comunidades tradicionais e fere direitos garantidos em legislações trabalhistas nacionais e internacionais ao dividir em categorias os pescadores e as pescadoras do Brasil. Desta forma, esse decreto faz parte de uma engrenagem de Racismo institucional que objetiva invizibilizar e eliminar os pescadores e as pescadoras, pois esses são entraves para o desenvolvimentismo degradador, excludente e concentrador, pois vivem em relações intimas com a natureza tão cobiçada pelo capital e que conta com a anuência do Estado”.
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