7 de set. de 2015

BELO TEXTO.DEVERIA SER USADO EM VÁRIOS SETORES DE NOSSA SOCIEDADE.

Por um jornalismo esportivo menos submisso ao desejo de afagar...

Não ao “jornalismo esportivo de afago”

Por Rafael Morais

Para o Carta Potiguar

A sociedade brasileira é regida por três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Mas dizem por aí que a mídia exerce o quarto poder.
Um poder informal que desempenha tanta influência perante o povo quanto os três oficiais.
Tem até filme, estrelado por Dustin Hoffmann e John Travolta, sobre o assunto.
De fato, o papel do jornalista como agente transformador de realidades, provocador e opositor pode criar melhorias para a sociedade.
Exemplos não faltam em todos os níveis, como o quadro “Proteste” do programa CQC ou quando a InterTV denunciou, por mais de uma vez, a situação precária da estrada da Cophab, em Parnamirim.
Nesses dois casos, a mídia nada mais foi do que o eco da voz da sociedade.
No jornalismo esportivo atual, há uma vertente que me preocupa demasiadamente: o ato de praticar o “jornalismo torcedor”, que no caso mais especifico da Terra do Elefante, eu prefiro nomear de “jornalismo de afago”.
É o jornalismo esportivo perfumado, voltado quase que unicamente ao entretenimento de um público especifico.
Um jornalismo muitas vezes dependente das pastas comerciais, preocupado muito mais em vender seus produtos, do que com a qualidade do conteúdo reverberado.
Criaram, inclusive, um termo para definir o processo de transformação que vive o jornalismo esportivo do momento: a Leifertização, uma referência ao estilo do Global Thiago Leifert – nada contra o bom profissional que obedece a regras – que pratica meramente um jornalismo de entretenimento, de sapatênis e piadas prontas, sem liberdade de discurso e muito menos conteúdo crítico.
Tudo bem, entendo que o futebol, por exemplo, há tempos ocupa um espaço privilegiado no mundo globalizado dos negócios, claramente na indústria do entretenimento.
Não é mais o mesmo jogo que Charles Miller trouxe da Inglaterra, em 1894, quando ele retornou ao Brasil com duas bolas, um livro de regras, chuteiras e um jogo de uniformes.
Mas isso é algo mais importante e relevante para os gestores dos clubes.
Esses sim têm motivos e obrigação de vender seus produtos.
O papel do jornalista esportivo não pode ser exclusivamente apresentar os fatos.
Cabe a esse profissional da informação ir além da simples captação da informação.
Ele deve ser um agente transformador da sociedade, assim como diz os preceitos da profissão citados no início dessa crônica.
Jornalismo é muito mais que apenas entretenimento.
A nossa missão não é apenas de reproduzir acontecimentos e narrar fatos. 
É se posicionar e proporcionar meios para mudança de realidades.
Como disse o jornalista Fábio Messa, “o jornalismo esportivo pode não ser só isso que se percebe na atualidade.
Ele pode assumir outras configurações, com base em propostas editoriais mais alternativas e arrojadas, que não sejam exatamente factuais e muito menos mitificadoras de determinados assuntos, sujeitos e contextos”.
O jornalismo esportivo também deve ser pautado pelos princípios que regem a prática do jornalismo, tais como independência, credibilidade e lealdade ao interesse público e à veracidade.
Vamos praticar o jornalismo esportivo com credibilidade, como diversas vezes me indicou o mestre Fernando Amaral.
Vamos fugir dos clichês do “jornalismo de afago”, do esporte apenas como indústria do entretenimento.
O esporte é muito mais que uma modalidade, mesmo que 80% do público tenha o elegido como seu esporte preferido.
Somos dez vezes mais campeões da natação, atletismo, ciclismo e surf do que de futebol.
É só fazer uma busca rápida na internet, que verás.
Nós, que compomos essa nova geração do jornalismo esportivo potiguar, que tem nomes promissores – alguns mais do que realidades – como Erick Dias, Diego Breno, Diego Dantas, Mallyk Nagib e Luan Xavier, temos que evitar o jornalismo simplesmente de afago.
Vamos assistir mais a ESPN Brasil, uma das emissoras esportivas mais politizadas do país, que fez a cobertura mais raciocinada sobre a Copa do Mundo no Brasil, denunciando o descaso e o desperdício de dinheiro público em obras estruturantes.
Vamos ler o sociólogo – sim, ele não é jornalista – Juca Kfouri.
Se deliciar com a escrita criativa e provocativa do nosso conterrâneo nordestino Francisco Reginaldo de Sá, ou simplesmente Xico Sá.
Aprender com a perfeição das crônicas de Tostão e com os textos geniais que nos deixou, ainda em vida e provavelmente de porre, o Doutor Sócrates na Carta Capital.
Vamos pesquisar as relações humanas e o que elas têm a ver com os nossos jogos preferidos.
Conhecer a histórias do surgimento das diversas modalidades e entender como elas ascenderam e contribuíram para o desenvolvimento das sociedades.
Quem sabe, um dia, se aproximar, ainda que milhares de quilômetros do padrão inigualável Rodriguiano.
O “padrão Nelson”, de quem “observava o esporte além do horizonte limitado de um jogo”, como afirmou Aldo Rebelo, quando Ministro dos Esportes.
Pouco importa se Neymar fez selfie ou deu uns pegas numa modelo famosa na noite passada e a quantidade de vitórias-empates-derrotas-cartões-demissões-contratações-impedimento-ou-não. 
Leiam a revista Corner, que como ela mesma assume, diz que o futebol é uma enorme desculpa para falar de sociedade, cultura, história, política, artes, arquitetura, design, entre outras vertentes sociais.
Jornalista esportivo bom não é o que sabe o nome do meia esquerda reserva do Veranópolis ou decora os onze do juniores do Barcelona B.
Bom é o que sabe explicar em detalhes que o futebol se confunde com a identidade e a alma do brasileiro.
É aquele com perfil contestador, mesmo que não seja de oposição.
É o que vai além das análises das pranchetas, além do 4-4-2, 3-5-2 e 4-2-3-1.
José Trajano diz que “para ser um bom jornalista em qualquer área, tem que ser antenado em tudo. Ser politizado, gostar de ler, ir ao cinema, trepar, ir ao teatro, beber. Ele tem que viver”.
É preciso expressar, no ato do jornalismo esportivo, o grito do movimento expressionista.
O que dói na minha, na sua, na alma da sociedade.
No meio esportivo, faço uso da sabedoria do físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês Blaise Pascal: “é preciso duvidar quando necessário, afirmar quando necessário e submeter-se quando necessário” e do bom senso do filósofo alemão Georg Hegel, que diz que “mede-se a excelência de uma ideia pela oposição que ela provoca”.
Lembremos sempre, o jornalista esportivo também pode ser um agente transformador de realidades e criar melhorias para a sociedade.
Basta submeter-se como sugeriu Pascal e ser provocador e opositor como afirmou Hegel.
Por um jornalismo esportivo menos torcedor, Leifertizado e de afago.

Por um jornalismo esportivo mais crítico, com conteúdo qualificado, provocador e, acima de tudo, transformador.

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