“Se você quer, pega. Se não quer, não quer“.
Foi assim que Alix Mustivas, de 26 anos, foi tratado pelo patrão após
se machucar enquanto trabalhava na construção civil. Após fraturar a
coluna o braço em dois lugares durante o trabalho – sem carteira
assinada – o dono da empresa ofereceu R$ 300 ao jovem. “Eu disse que minha vida não valia R$ 300“.
Mustivas, que teve o apoio de entidades sindicais catarinenses para
receber, durante um mês, auxílio do INSS, conta que ficou dois dias sem
levantar e andar. “Depois de uma semana consegui caminhar e levantar sozinho“, afirma.
Haitiano, ele está há mais de um ano entre Curitiba e Santa Catarina.
Mustivas veio ao Brasil em busca de oportunidades melhores do que as
que encontrava no país de origem, que ainda se recupera de um devastador
terremoto, que atingiu a nação em 2010.
“Eu trabalhei em um condomínio em Santa Catarina, mas depois da temporada não precisavam mais de serviço“, conta ele, que então conseguiu um novo emprego, no setor de construção civil, sem dificuldades.
“O
chefe pagava R$ 70 por dia, mas não queria assinar a carteira de
trabalho. Ele dizia que ia assinar na semana seguinte, mas nunca
assinava. Eu estava em uma situação que tinha que pagar aluguel, ajudar
minha filha, não podia ficar parado“, conta ele, pai de uma garota de 7 anos que mora com os avós maternos no Haiti.
Atualmente, ele mora em Curitiba – “achei que lá teria mais gente para cuidar de mim“, contou – onde tem uma banda e trabalha como segurança em uma universidade particular.
Mustivas é, de acordo com dados
da Polícia Federal, um dos 65 mil haitianos que chegaram ao Brasil
entre 2011 e novembro de 2015.
Não há dados precisos sobre quantos haitianos vivam em Santa Catarina, mas as estimativas giram em torno de 6.000 pessoas.
“O
indicativo que se tem é que em 2013, segundo o Ministério do Trabalho e
Emprego, os haitianos tornaram-se o grupo de trabalhadores imigrantes
em SC, de maior presença no mercado formal“, explica a professora Gláucia Assis, coordenadora do Observatório das Migrações de Santa Catarina, ligado à UDESC.
Em Santa Catarina,
nos cinco primeiros meses do ano passado, foram emitidas 2.259
carteiras de trabalho para haitianos, mais do que o dobro do registrado
ao longo de 2014: 986.
Gláucia aponta para a configuração de redes sociais, que fazem com que um imigrante “puxe” o outro para determinada cidade.
“Esse
incremento da presença de haitianos no estado se deve ao fato de que a
maioria quando chegou encontrou trabalho, antes da intensificação da
crise econômica, e a principalmente ao fato de que os imigrantes uma vez
estabelecidos e encontrando trabalho tendem a passar essa informação a
amigos e parentes que vem para onde já há algum conhecido estabelecido e
posso ajudar a encontrar emprego e moradia.”
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Foi a perspectiva de um emprego
e a possibilidade de avançar nos estudos que levaram Alexandre Bladimy,
de 28 anos, a Balneário Camboriú. Antes, ele trabalhou em um
frigorífico no Rio Grande do Sul.
“Foi um momento muito duro
para mim, pois meu coração não compartilha com esse tipo de lugar, com
sangue, com sofrimento. Tenho um coração muito sensível“, conta ele, que trabalhou por um ano e pediu para ser mandado embora.
Gabriela Bazzo, HuffPost Brasil
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