Dez dicas rápidas para você,
leitor de redes sociais, não ser enganado na guerra cotidiana por
corações e mentes que está deflagrada na internet. Porque, em uma
guerra, a verdade (se é que ela ainda existe) é sempre a primeira
vítima:
1) Olhe sempre a data do texto
– Há muita gente que, por inocência ou sacanagem, reposta links antigos
como se o fato tivesse acabado de acontecer. Como o momento em que um
fato ocorre é importante para a sua compreensão, a impressão que fica é
que o problema se repete por incompetência de alguém num eterno Dia da
Marmota.
2) Anônimo é coisa do capeta
– A chance de uma denúncia anônima e sem a fonte da informação
circulando no WhatsApp ser séria é a mesma de um jabuti escalar um poste
de luz sozinho. Se recebeu, demonstre nojinho e desconfie.
3) Fora de contexto, sem chance
– Quando alguém tenta desacreditar uma ideia, pinça uma frase ou uma
imagem fora de seu contexto e a utiliza para construir seu argumento.
Como parte das pessoas foi condicionada a agir como gado diante do
discurso de quem confia, acaba acreditando no novo significado que o
sujeito tentou impor com essa descontextualização. Ou seja, na dúvida,
Google nele.
4) Não seja otário, leia
– Ler um texto até o final é fundamental. O título, a foto e legendas
não são capazes de trazer toda a complexidade de um argumento. Se não
tiver tempo para ler, não compartilhe ou curta. Você pode, sem querer,
estar difundindo uma peça de racismo ou de violência contra a mulher.
5) Desconfie dos argumentos de autoridade
– Não é porque o papa ou a bispa Sônia disseram algo que você tem que
acreditar. O mesmo vale para o presidente da sua associação de moradores
ou o diretor do seu sindicato. Exija confirmação dos fatos ou vá atrás
dela.
6) Cuidado com falsa relações de causa e consequência
– Um fato que acontece depois do outro não necessariamente foi causado
pelo primeiro. O atropelamento de um pônei não é, necessariamente, a
causa de uma tempestade. Da mesma forma, a chegada de imigrantes não é
necessariamente a causa de desemprego.
7) Não se deixe levar por quem escreve bonito
– O texto pode até estar te xingando de uma forma doce e você nem vai
perceber se não observar atentamente o significado das palavras que o
autor escolheu. Além disso, fique atento: não é porque a pessoa escreve
com certeza absoluta no que diz que está certa.
8) Cuidado com os sites fantasmas
– Não é porque um site publicou um assunto com uma abordagem com a qual
você concorde que ele é honesto ou faz bom jornalismo. Procure um “quem
somos” ou um “expediente” e veja quem trabalha lá. Se não encontrar,
desconfie.
9) A imagem nem sempre vale mil palavras
– Até uma criança não alfabetizada é capaz de manipular uma foto com
aplicativos online. Então, por que você acredita que uma imagem é uma
prova irrefutável de um argumento? Ao mesmo tempo, ao editar um imagem,
deixando partes dela de fora, exclui-se desafetos ou cria-se a impressão
de multidões onde elas não estavam.
10) Leia coisas com as quais discorda
– Não é porque você não concorda com uma opinião ou informação
presentes em um texto bem fundamentado que ele não merece ser lido.
Considere que o mundo é mais complexo do que você pode imaginar e que a
pluralidade de ideias, desde que não desejem a morte de ninguém, ajuda a
crescermos como sociedade. O contrário disso se chama ditadura.
*Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo.
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