DIREITOS HUMANOS
30.06.2015
[ Brasil ]
Organização dos Estados Americanos recebe denúncia de ameaça policial em Salvador
Cristina Fontenele
Adital
A organização
Justiça Global formalizou uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), relatando as constantes
ameaças, tentativas de intimidação e perseguições a integrantes da Campanha "Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto”. Estas estão partindo de policiais militares da
Bahia. A expectativa é de que a Comissão da OEA passe a acompanhar o caso da
chacina de Cabula e monitore as ameaças ao movimento e aos familiares das
vítimas.Perseguição e ameaça policial a integrantes do movimento "Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto” já motivaram a mudança de alguns moradores da região de Cabula e Engomadeira, em Salvador. |
Helena conta que os moradores dos bairros da Engomadeira e de Cabula, em Salvador, vivem em situação de "risco de vida”, devido ao clima tenso e à constante ameaça policial. Ela diz que a situação representa um "constrangimento internacional”, tendo em vista a necessidade do envolvimento de organismos internacionais para acompanhar os fatos e pressionar por justiça.
Entenda o caso
No último dia 06 de fevereiro, policiais das Rondas Especiais (Rondesp) da Bahia executaram 13 jovens negros e feriram pelo menos outras duas pessoas no bairro Vila Moisés, região de Cabula, Salvador. Desde essa data, a Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto, com apoio da Justiça Global e outros parceiros, tem denunciado que a Polícia Militar (PM) não reagiu a uma troca de tiros e sim executou, sumariamente, os jovens. O caso ficou conhecido como Chacina de Cabula.
No início deste mês, quando a Justiça decidiu acatar a denúncia do Ministério Público, pedindo o indiciamento de nove envolvidos na Chacina, uma viatura da PM passou a vigiar a rua onde mora um dos coordenadores da Campanha, Hamilton Borges. Um carro tem ficado diariamente estacionado em frente à residência do defensor. Outros integrantes da Campanha também foram ameaçados, com constantes blitze feitas pelas polícias civil e militar, especialmente próximas onde moram familiares dos jovens assassinados e que integram a Campanha Reaja.
A Campanha surgiu em 2005 e articula os movimentos sociais e a comunidade negra da capital e do interior da Bahia, no combate à ação violenta da polícia e dos grupos de extermínio, buscando reparação aos familiares das vítimas.
Em entrevista à Adital, o coordenador Hamilton Borges disse que todas as vezes que o movimento sai às ruas para denunciar a violência policial, ocorrem ações desse tipo. "São campanas em nossa porta, tiros nos lugares que frequentamos, blitze com revista, ameaças pelo whatsapp e pelas redes sociais”. Ele conta que, desde o segundo dia após a chacina de Cabula, as intimidações vêm ocorrendo. Para Borges, é necessário que o governo fortaleça programas de proteção aos defensores e pense em uma proposta mais coletiva, não apenas voltada para uma pessoa em específico.
Segundo ele, alguns moradores se mudaram da região, tendo em vista as perdas que já sofreram com a morte de filhos e parentes na chacina. Ele denuncia a "total conivência” do governo em não investigar e resolver o caso. "Não vamos ver nosso povo morrer em silêncio, vamos continuar lutando”, conclui.
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